terça-feira, 18 de junho de 2013

Discrição tem limite


Atrás deles, estão perfilados alguns dos defensores mais caros do mundo: Dani Alves, Thiago Silva, David Luiz e Marcelo. Aí, na hora de olhar para frente, lá estão jovens com o talento de Oscar, Lucas e Neymar, além do cobiçado Hulk e de Fred, maior ídolo de um dos maiores clubes do país. Em meio a gente dessa fama toda, Luiz Gustavo e Paulinho, a dupla de volantes da Seleção Brasileira, discretos cada um ao seu modo, despontam com um papel fundamental para o sucesso da equipe.
Num grupo com tanto talento no setor ofensivo e com dois laterais que também gostam de avançar – e costumam fazer de modo agudo –, cabe aos dois aquela missão básica e quase sempre inglória: a de carregar o piano. É o que os espectadores em Brasília puderam ver no sábado, na vitória na estreia contra o Japão, quando os dois trataram de justificar a confiança do técnico, cumprindo com rigor as orientações táticas e dando sustentação ao meio-campo. De modo que, para Luiz Felipe Scolari, um treinador que sempre valorizou muito esse tipo de tarefa, eles talvez sejam os verdadeiros destaques.
“O Felipão vem conversando bastante com a gente para ter esse tipo de equilíbrio: que o primeiro que temos de fazer é defender muito bem”, diz Paulinho ao FIFA.com, costumeiramente econômico em entrevistas - daqueles que prefere falar em campo mesmo e um dos poucos casos de quem ainda é mais conhecido dentro do Brasil do que fora.
Marcar primeiro, depois...Essa é a prioridade para os dois. Mas o volante do Corinthians, em específico, se destacou nos últimos anos justamente por sua capacidade de chegar ao ataque com propriedade. Veloz, de passadas largas, é sempre um perigo rondando a área adversária, vindo de trás, pegando as defesas desprevenidas. Então, não é que esteja proibido de se adiantar. Só tem de dosar.
É o que explica Scolari: "O Paulinho está liberado para ir quando tivermos condições de que possa ir. No clube, muitas vezes, o atleta do lado dele passa bem menos. Temos aqui um atleta que passa bem mais (Dani Alves), e ele precisa observar. E sabe fazer isso. Aqui na Seleção é diferente. Ele precisa se adaptar às características de quem tem ao lado".
As orientações parecem ter sido bem assimiladas. Contra o Japão, ele conseguiu fazer o seu gol – feito um centroavante, posicionado na grande área – e, ao mesmo tempo, ajudou o time a não sofrer nenhum. “Ir ao ataque? Quando temos uma certa liberdade, vamos subir sempre. E consegui fazer um gol importante”, diz o corinthiano.
Pronto e adaptadoPara Luiz Gustavo, neste caso, as coisas são menos complexas. Ele sabe que suas obrigações são muito mais defensivas do que as do companheiro, e não tem problema nenhum com isso. Está mais do que habituado. Sua discrição já é tática. “Na estreia, foi um dos melhores dentro do contexto do jogo”, opina Scolari. “Ele vem aproveitando tudo o que a gente vem falando. É um jogador equilibrado, que já vem de uma escola alemã que é bastante exigente. Quando a gente vai exigir, fica tudo mais fácil.”
De fato, a influência do futebol germânico na formação do volante é marcante. Em conversa com oFIFA.com alguns dias antes da conquista da UEFA Champions League, o paulista de Pindamonhangaba falou sobre o impacto que causa a transição de um Corinthians Alagoano – consideravelmente menor que o xará mais famoso, campeão da Copa do Mundo de Clubes da FIFA, dePaulinho – ou do CRB para o que encontrou na Alemanha, quando foi contratado em 2007 pelo Hoffenheim. “Era sempre pedido mais e mais nos treinos. Tinha de trabalhar todos os dias em busca de coisas melhores, aproveitando o tempo da melhor forma possível. Isso facilita a adaptação a qualquer estilo."
Luiz progrediu tanto no Hoffenheim que, em 2011, já era um jogador do poderoso Bayern. Hoje, ao contrário de Paulinho, é certamente mais conhecido no exterior do que em casa – afinal, sua estreia em um clube grande foi acontecer na Baviera. Na Seleção, sua integração vem sendo tranquila. Embora suas funções não sejam muito diferentes das que exerce no clube, não deixa de ser admirável, pois só tinha jogado alguns poucos minutos por Felipão no amistoso contra a Itália, em março, antes de ser convocado. Depois, teve de se apresentar com atraso. 
Quando chegou, contudo, foi para tomar conta da cabeça de área, já titular contra a Inglaterra, no Maracanã. “Cada treinador tem uma filosofia para passar. Você tem de ver o que ele pede em campo e aí evoluir de acordo com isso. Tem de estar preparado”, contou. No empate de 2 a 2 com os ingleses, Luiz atuou pela primeira vez ao lado de Paulinho - que, coincidência ou não, fez o segundo gol brasileiro. 
Se os dois conseguirem levar esse entrosamento adiante, evoluindo a partir do que já mostraram em suas primeiras partidas em conjunto, é provável que, na hora de se ler a escalação da Seleção, cada vez mais seus nomes comecem a entrar na lista de estrelas. Por mais reservados que sejam.

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