Pela primeira vez nesta Copa das Confederações da FIFA, os minutos inicias de um jogo da Seleção Brasileira tiveram mais silêncio e tensão do que barulho e efusão. A trilha sonora do Mineirão naquele princípio de jogo contra o Uruguai parecia prever o que viria ao longo do resto da tarde: sofrimento.

Ao contrário do que aconteceu nos três jogos da fase de grupos, o primeiro momento de descompressão da torcida não foi comemorando um gol, mas sentindo o alívio de evitar um. Foi aos 15, quando Júlio César voou no canto esquerdo para defender um pênalti cobrado por seu ex-companheiro de Internazionale de Milão Diego Forlán e saiu comemorando e apontando para sua própria cabeça. Era ali, na cabeça dos brasileiros, que residiria a chave para passar pelo desafio deganhar, mesmo sem jogar propriamente bem.

“É isso. Claro que tinha pressão e claro que, para aguentá-la, precisávamos manter os nervos no lugar”, contou o goleiro ao FIFA.com “Ao longo dos meus anos de Seleção, algumas vezes nós ganhamos assim: com drama e não necessariamente num jogo muito bonito na parte técnica. E de uma coisa não tenho dúvida: de vez em quando é bom. Faz bem. Serve, certamente, para amadurecer.”
As partidas contra Japão, México e Itália na fase de grupos, afinal, além de boas vitórias, tiveram outra característica marcante em comum: em todas elas, a Seleção iniciou o jogo tratando de acuar o adversário em seu campo, com uma marcação sob pressão que começava loucamente com Neymar, Hulk e Fred cercando os zagueiros rivais. Contra os uruguaios, isso não se viu. “Os brasileiros têm uma proposta ofensiva e sempre saíram avassaladoramente para cima do rival, principalmente contra a Itália. Eles não a deixaram sair de seu campo, com muita gente na frente e os dois laterais muito adiantados, até mais do que os meio-campistas. Hoje, não acho que o Brasil não quis fazer isso. Acho que não pôde, porque nós saímos dispostos a pressioná-los na frente”, explicou o técnico Òscar Tabárez em sua entrevista coletiva. “É evidente que o Brasil está tomando uma fisionomia. Hoje, o time passou por uma prova muito dura. Com o tempo, eles terão mais adversidades, porque os outros passarão a conhecer mais a equipe brasileira.”

Bacharel em sofrimento
Pela maneira como vinham as referências, era como se o jogo com o Uruguai tivesse sido não só uma vitória, mas uma espécie de aula. Não pelos 2 a 1 em si, mas sobretudo pela maneira de consegui-lo: levando mais de um susto e só se aliviando com gol de cabeça de Paulinho, a quatro minutos do apito final. "Ainda somos novos”, disse Luiz Felipe Scolari em sua entrevista coletiva após a partida. “Penso que o importante foi notar que ainda temos o que aprender.”
Certo, mas aprender o quê? Tanto Neymar quanto Marcelo, em conversas separadas com o FIFA.com, fizeram menção exatamente ao mesmo termo para resumir aquilo de que falavam ao explicar a vitória. “Foi difícil. Um jogo típico de semifinal, o primeiro deste time”, falou o camisa 10, que havia anotado gols nos três jogos anteriores da Seleção na Copa das Confederações. “Sofremos, mas sofrendo a gente também entende muita coisa. Agora, vamos para a final com mais confiança.”

Porque, claro, uma coisa é mostrar confiança quando as coisas dão certo desde o início e quando uma derrota não necessariamente significa o fim da linha. Bem diferente do que aconteceu na quarta-feira, quando o lateral-esquerdo Marcelo apareceu menos pela habitual habilidade do que por lances como um no primeiro tempo em que ganhou uma dividida com um jogador uruguaio e deu um tremendo e deliberado bico para a linha lateral – do qual até se desculpou pela velocidade com que acertou os torcedores do anel inferior do Mineirão.

“Ali foi o ditado aplicado: bola para o mato que o jogo é de campeonato”, brincou o lateral-esquerdo em conversa com o FIFA.com. “Foi um dia diferente. A gente tem estado acostumado a jogar mais pertinho um do outro, a trocar passes rápidos, a dominar o adversário pela nossa habilidade. Só que, mesmo antes de entrar em campo, a gente sabia que hoje era outra coisa; que era clássico”, admitiu o jogador do Real Madrid. “Por mais que a gente venha jogando bem neste torneio, é preciso lembrar que esta equipe ainda está se encontrando em muitos aspectos. O time ainda está aprendendo a cada jogo e, hoje, foi a vez de algo muito normal no futebol: a gente aprendeu a sofrer.”