A Nigéria no Brasil: Um caminho único
Não são muitos os jogadores nascidos na África que decidiram fazer carreira no Brasil. Mas há pelo menos uma história de sucesso que mostra quão promissora a rota pode ser. Perguntem a Richard Owubokiri.
Hoje um agente de jogadores dedicado ao mercado de transferências e empresário do ramoimobiliário, vivendo no Nordeste brasileiro, o ex-atacante deixou a Nigéria recém-egresso da adolescência, no início da década 80, para desembarcar no chamado país do futebol e tentar a sorte como profissional. Foi convencido por dois técnicos brasileiros, apesar das incertezas que cercam uma transição nada usual - após algumas temporadas de sucesso em sua terra natal, onde defendeu o Sharks e o ACB de Lagos.
No fim, essa decisão se provou crucial para que Richard hoje possa falar como alguém que viveu 19 temporadas como um prolífico centroavante, que já chegou a ser o segundo maior artilheiro da Europa. Foi um movimento tão importante em sua vida que, depois de seguir em frente e passar por países como Portugal, França e Catar, ele não tem dúvidas em apontar o Brasil, mais especificamente Salvador, a capital da Bahia, como sua nova casa. Lá, onde ficou conhecido simplesmente como Ricky.
“As coisas aqui fluíram. Quando cheguei, as pessoas não me conheciam, mas eu corri atrás dos meus objetivos e consegui. Salvador, para mim, é a minha segunda cidade, eu me sinto muito bem aqui”, afirma ao FIFA.com.
Com sotaque
Era 1983, e, para dizer a verdade, a mudança para o Brasil já não parecia tão absurda assim. O rapaz de 21 anos já havia trabalhado na Nigéria com dois treinadores brasileiros: um era Luciano de Abreu, que o dirigira no Sharks; o outro, o legendário Otto Glória, que marcou época em Portugal dirigindo equipes históricas do Benfica e a própria seleção lusitana que terminou a Copa do Mundo da FIFA Inglaterra 1966 em terceiro lugar. Os dois o convenceram e facilitaram a viagem.
Era 1983, e, para dizer a verdade, a mudança para o Brasil já não parecia tão absurda assim. O rapaz de 21 anos já havia trabalhado na Nigéria com dois treinadores brasileiros: um era Luciano de Abreu, que o dirigira no Sharks; o outro, o legendário Otto Glória, que marcou época em Portugal dirigindo equipes históricas do Benfica e a própria seleção lusitana que terminou a Copa do Mundo da FIFA Inglaterra 1966 em terceiro lugar. Os dois o convenceram e facilitaram a viagem.
A princípio, o plano foi colocá-lo no América, do Rio de Janeiro, um clube que foi uma potência na primeira metade do século, mas que, aos poucos, foi perdendo espaço diante da forte concorrência na elite carioca. Naquela época específica, porém, a instituição se apresentava competitiva, dificultando a entrada de qualquer jogador mais jovem, quanto menos um estrangeiro.
Não que tenha sido tempo perdido para Richard também: ele estudou português com a ajuda dos ex-mentores e de professores e, em 1984, em vez de permitir que a frustração o levasse de volta para casa, resolveu subir apenas um pouco mais de 1.200 km na costa brasileira para assinar com o Vitória e se mudar para Salvador. “É um lugar que tem um clima diferente. É especial”, diz o nigeriano, em português fluente e com um inegável sotaque soteropolitano.
Um cidadão adotado, então, ele poderá fazer as vezes de anfitrião para seus compatriotas, que, por uma agradável coincidência, jogarão lá pela Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013, enfrentando o Uruguai na renovada Arena Fonte Nova no dia 20 de junho. Entre os que vai receber está Stephen Keshi, treinador dos Super-Águias. “Fomos colegas de quarto quando jogamos juntos na seleção. É um bom amigo. Por vezes conversamos e será um prazer poder revê-lo aqui.”
Para conhecer
Primeira capital brasileira, até 1763, Salvador tem mais de 2,7 milhões de pessoas, sendo a terceira mais habitada do Brasil. Sua população é composta em mais de 80% de descendentes de africanos, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Não por acaso, em 2011, depois de realizado o 21º Encontro Ibero-Americano de Afrodescendentes, com participação da presidenta Dilma Rousseff, a cidade foi nomeada a Capital Negra da América Latina. Um título simbólico que presta reverência à influência africana marcante na cultura local, passando de religião e culinária à música e dança.
Primeira capital brasileira, até 1763, Salvador tem mais de 2,7 milhões de pessoas, sendo a terceira mais habitada do Brasil. Sua população é composta em mais de 80% de descendentes de africanos, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Não por acaso, em 2011, depois de realizado o 21º Encontro Ibero-Americano de Afrodescendentes, com participação da presidenta Dilma Rousseff, a cidade foi nomeada a Capital Negra da América Latina. Um título simbólico que presta reverência à influência africana marcante na cultura local, passando de religião e culinária à música e dança.
São aspectos que facilitaram a adaptação do nigeriano, claro, mas foi via campo que o eventual ídolo se estabeleceu. Ele marcou seu primeiro gol pelo Vitória logo no jogo de estreia. Justamente no Ba-Vi, o grande clássico regional, contra o arquirrival Bahia. Melhor ainda? Apenas um dia depois de celebrar 24 anos.
Ele jogaria mais duas temporadas pelo clube rubro-negro e marcaria mais de 60 gols, até migrar para a Europa, onde defendeu Laval e Metz, na França; além de Benfica, Estrela Amadora, Boavista e Belenenses, em Portugal. Na reta final da carreira, jogou pelo Al-Arabi, no Catar, e pelo Al-Hila, na Arábia Saudita. Foi no Boavista, em 1991-92 que ele conseguiu replicar o sucesso que teve em gramados baianos, tendo sido o artilheiro da liga portuguesa e o segundo de toda a Europa, atrás do holandês Wim Kieft.
Em 1994, ele chegou a vestir a camisa do Vitória novamente, mas numa passagem breve, até fazer uma nova peregrinação. Três anos depois, porém, estava de volta. E aí já como um jogador aposentado. Ao ouvir o entusiasmo do nigeriano para descrever a cidade, é fácil de entender sua escolha. Ele já a defende como um guia turístico. “Salvador é fantástica. Se eu tivesse que dar algumas dicas, elas seriam, sem dúvidas, as praias. Principalmente Porto da Barra. Foi escolhida uma das praias mais bonitas do mundo com toda razão", diz ele. "Aqui também temos o Pelourinho, além da Arena Fonte Nova, que ficou linda. Salvador tem muita coisa. Quem vier não se arrependerá.”
Mas não é apenas para os turistas que ele recomenda a visita - e, aliás, nem só Salvador. Ricky costuma dizer aos garotos de seu país que o “melhor lugar para se aprender futebol é o Brasil”. Só resta saber quando haverá outros como ele: dispostos a seguir esse caminho único e com futebol para justificar isso.
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